terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Enfim sós




  E então estávamos fazendo parte do grupo de pessoas que dizem “enfim sós”. Não um “enfim sós” para sempre, mas era o nosso momento. Um fim de semana, dois dias, o suficiente para nos deixar feliz. Era pouco? Sim, minha vontade era muito mais, mas cada segundo valeria. Sabe quando você quer que o dia não acabe? Que a noite não chegue? Eu estava assim, mesmo sem saber o que ia acontecer, mesmo sendo ainda só duas da tarde. 
 Duas horas, duas e um, duas e dois… Que importância tem? Chegamos naquela casa, o vento frio jogava meu cabelo para trás e deixava o dele de um jeito engraçado. Era julho e estava frio, ainda mais na praia. E era isso, uma casa de praia, no inverno, só para nós dois. A ideia me deu um pouco de receio no começo. Mas férias, frio, preguiça e ter ele comigo… Tudo combinava muito bem e acabei aceitando. Ideia dele, pensei que estava brincando, mas era tudo verdade e tão improvável. 
  Chegamos e arrumamos as coisas. Não arrumamos exatamente, para que perder tempo com isso? Quando levamos as roupas para o quarto, ele me puxou pela cintura e me fez cócegas como se eu fosse uma criança e ele amasse me ouvir rir. Me mordeu, me beliscou, me encheu de beijos. Bem típico dele e, mesmo assim, me fazia rir como um bebê. Quando resolveu parar, meus olhos já estavam cheios de água e minhas bochechas vermelhas. Dei um tapinha nele de brincadeira e chamei ele de bobo, como eu fazia frequentemente.
    Surgiu então a ideia de uma caminhada na praia, mesmo com o frio cortante eu aceitei. Estava tudo tão quieto, só o barulho das ondas e do vento. No meio da conversa sobre as aulas que voltariam na próxima semana houve um silêncio, ele parou, me olhou e foi como se houvesse só nós dois, mais nada, em um vazio imenso, os lábios dele tocaram os meus e todo o frio passou, o vento cessou e eu só sentia o toque dele. O beijo foi de uma intensidade tão grande que demorou uns segundos para eu recuperar os sentidos. Na volta para casa ele percebeu uma concha diferente na areia, pegou e me entregou dizendo que era para lembrar desse fim de semana.
  A quantidade de areia em meus cabelos quando chegamos em casa era incrível, ele apertou minhas bochechas fazendo graça do meu estado e eu sorri para ele, fazer birra não ia mudar muita coisa e meu estado era realmente deprimente. Ele pegou umas coisas e foi para o quarto dizendo que ia tomar banho por causa da areia, algo assim, aproveitei para usar de meus dotes péssimos para a culinária e fazer a coisa que eu sabia fazer melhor na cozinha: brigadeiro. Simples, fácil e gostoso, por que não? E o frio pedia isso, pedia um filme, uma pipoca e o resto da tarde no sofá.  
  Prendi o cabelo e fui para a cozinha. O brigadeiro ficou pronto, separei duas colheres e fui para a sala esperar ele sair do banho. Mudei de canal muitas vezes, nada de interessante na TV. Ele chegou de fininho e mordeu minha bochecha como se fosse a coisa mais gostosa do mundo. Eu fiquei chateada, bati nele de leve e ele me beijou como se nada tivesse acontecido. E ficamos ali dividindo a panela de brigadeiro. Levantei, disse para ele lavar a louça e fui tomar banho, a areia já estava me dando agonia. Peguei no quarto umas coisas e fui para o banheiro. 
   A água quente me acalmou, me sequei e quando fui me vestir percebi que tinha esquecido o pijama no quarto. Eu tinha pego só a lingerie e um hobby rosa que eu tinha ganho de aniversário. Vesti o que tinha, sequei o cabelo e fui para o quarto na esperança de vestir meu pijama antes de ele me ver. Quando abri a porta do banheiro o frio deixou minha pele arrepiada, sai devagar, na ponta dos pés, e fui para o quarto. Quando entrei, o quarto estava escuro, exceto pela luz de duas velas em cima de uma cômoda que eu não havia notado. E ele estava ali, agora na minha frente. 
   Em seu rosto iluminado pela pouca luz das velas eu vi um sorriso, um sorriso cheio de amor e certeza, diferente de muitos outros que eu já tinha visto. Ele fechou a porta, pegou minha mão e grudou meu corpo no dele, cada centímetro da minha pele ficou mais arrepiada e os únicos sons que eu ouvia era dos nossos corações e o da chuva que agora caía lá fora. 
   Ele acariciou meu rosto com uma das mãos enquanto a outra segurava minha cintura e então me beijou e novamente eu senti ele, e somente ele. Não ouvi mais nada, não senti mais frio, não senti meus pés no chão. A intensidade daquele beijo mexeu comigo e de repente tudo começou a parecer tão certo, tão perfeito. Sua mão deslizou pela minha cintura e puxou o laço frouxo que eu tinha feito para prender o hobby, desci minha mão lentamente pelas suas costas nuas e passei a pontinha dos dedos na cintura dele como eu sabia que fazia ele se arrepiar.
   Enquanto o hobby deslizava por meu ombro, caindo no chão, ele beijava meu pescoço afastando com a mão meu cabelo molhado. Ele me deitou na cama, olhou em meus olhos e disse, com toda a certeza em sua voz, que me amava. E tudo foi se desenrolando de uma maneira mágica, cada toque, cada beijo, cada segundo.
   E então eu acordei. O sonho se foi. Se transformou em mais uma lembrança de um momento que não aconteceu.

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